domingo, 2 de novembro de 2008

Mulher Transforma Casa em Museu

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Moradora de Aparecida de Goiânia resgata objetos antigos e coordena um centro de valorização da cultura regional na própria casa

Por Lorena Gonçalves
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Nilmari Alves Siqueira é neta de um dos pioneiros de Aparecida de Goiânia, Benedito Batista de Toledo, e descendente de um dos fazendeiros fundadores da cidade. Católica devota, criou e comanda a Associação de Catira, Folia e Quadrilha, um centro de resgate da cultura popular aberto em sua própria residência. O local é aberto à visitação pública e é onde a moradora pode expor artesanatos que coleciona há anos.

Objetos do contexto histórico goiano estão expostos por todos os cômodos da casa. Na varanda de entrada estão rodas de fiar, teares, pilões, panelas de barro, pinturas, e estátuas. Prateleiras cheias de objetos peculiares estão suspensas por todas as paredes. Na área interna da casa estão violas, balões de papel colorido, vasos e arranjos florais. Na sala, nos quartos e na cozinha há elementos que remetem à zona rural, como panelas e xícaras esmaltadas, colchas de retalho e crochês.

Na casa localizada no centro da cidade, é possível encontrar desde flores de papel e trançados de palha, até ferros de marcar gado com mais de 150 anos de idade. A coleção começou a ser feita há mais de 10 anos por Nilmari. A maioria das peças expostas foram doações de amigos e de admiradores da idéia, outros artefatos foram comprados com dinheiro do próprio bolso, e outros foram fabricados por ela mesma.

Resgate da cultura popular

A associação liderada por Nilmari foi fundada há 10 anos e teve início com a criação do grupo de catira e folia, Os Filhos de Aparecida. “A folia e a catira estavam acabando aqui na cidade. As pessoas mais antigas, e que participavam das tradições, morreram. Eu tentei resgatar isso, porque a cultura da cidade é exatamente a catira e a folia”, afirmou Nilmari.

Além d’Os Filhos de Aparecida, a associação formou recentemente um grupo exclusivamente feminino, o Meninas de Aparecida, composto por garotas de cinco a 18 anos de idade. Os grupos participam de campeonatos por todo o Estado, e já conseguiram reconhecimento nas competições e prêmios de primeiro e segundo lugar em vários torneios.

Jéssica Ferreira Franco, de 11 anos, é uma dessas alunas e hoje faz parte do grupo feminino. “Uma amiga me chamou pra conhecer, eu gostei e estou aqui até hoje. Já até viajei com o pessoal nos campeonatos. Meus amigos acham diferente, mas eu não dou nem bola pra o que eles falam” afirmou Jéssica enquanto se preparava para uma tarde de ensaios de catira.

O projeto recebe apoio das Secretarias de Educação e de Cultura de Aparecida, que ajudam financeiramente e cedem funcionários para trabalharem no centro. Entretanto, Nilmari critica algumas posturas tomadas pela administração da cidade: “Depois que a nossa festa foi transformada em RodeioShow, eu não gosto mais. Juntaram o dia de Nossa Senhora de Aparecida com o aniversário da cidade”, desabafa a idealizadora do projeto.

Nilmari refere-se à festa popular e religiosa que ocorria todos os anos na Praça da Matriz da cidade, a “Festa de Maio”. Devido a questões estruturais e políticas, o evento se desvinculou da Igreja Católica num processo que começou desde 1994. A sede da festa foi transferida para o atual Centro de Cultura e Lazer José Barroso (vulgo RodeioShow), a entrada deixou de ser gratuita, e os cultos religiosos foram remanejados para a Igreja Matriz.

A participação na associação é livre e gratuita. Os interessados podem fazer aulas de viola, violão, catira e dança country. Os coordenadores da associação observam os alunos e os convidam para participarem dos grupos principais quando se tornam aptos para as apresentações. Há ensaios pelo menos uma vez por semana.

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