domingo, 2 de novembro de 2008

Resenha: Identidade Cultural na Pós-Modernidade (Stuart Hall)

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Stuart Hall indaga sobre o que é a identidade e como ela se correlaciona com todas as possibilidades oferecidas dentro da perspectiva de um mundo pós-moderno. Dessa forma, o autor se propõe a discorrer, observando outras teorias sociais sobre o assunto. A primeira parte do livro é dedicada a explanar sobre a questão do que realmente vem a ser essa “identidade”, se é algo concreto ou subjetivo, descritível ou não. Hall afirma em sua teoria que não há apenas uma identidade capaz de qualificar um sujeito, mas que cada indivíduo possui diversas formas de se compreender como parte integrante da sociedade. Nisso inclui-se aspectos como etnias, raças, religiões, e o pertencimento a vários tipos distintos de grupos sociais. No entanto, há uma aba mais importante dentre essas discussões, de acordo com Hall, que é o âmbito de cultura nacional. Nesse sentido, fica claro que para o autor, identidade não é apenas um substantivo que possui uma imagem denotativa, mas sim um desígnio para algo muito mais complexo.

Ele perpassa três concepções de identidade, desde o sujeito do Iluminismo, que tinha a certeza de seu lugar determinado, como indivíduo centrado nos seus saberes, em arranjo com a posição das classes na sociedade e com Deus, passando pelo sujeito sociológico que é aquele que adquiriu maior capacidade crítica diante do que lhe é imposto, até o sujeito pós-moderno, aquele que não tem identidade fixa, que é mutável e inconstante.

Hall explora ainda a questão do que é modernidade, para definir também o que é esse sentimento e fato de pós-modernidade. Ele também explana sobre a questão dessa chamada modernidade nos países que não tiveram parte significante na revolução industrial, e por isso tiveram uma modernidade tardia. Dessa forma, ele volta aos vários conceitos aplicados à palavra “globalização” para discutir seus ínfimos significados e seus impactos sobre as identidades culturais. Em outras palavras, ele discorre sobre o Imperialismo cultural, decorrente de formas físicas e políticas de imposição causadas por esses processos de dependência financeira e tecnológica, principalmente.

É como se a sociedade moderna fosse um inteiro formado por inúmeras outras partes que não se relacionam necessariamente entre si, formando uma rede complexa de co-relações, instituídas por cada um desses indivíduos complexos que se organizam de forma também complexa, dentro de suas comunidades por interesses afins. Além disso, pelos processos impositórios, há também relações de forças exteriores que agem sobre determinadas comunidades, por questões diversas, como política, economia ou intolerância religiosa.

A partir de então Stuart Hall começa a caracterizar as ações humanas e suas implicações a partir da premissa de que há modificação sobre a sociedade. Desde quando o humanismo reinou certo sobre o mundo ocidental, e Deus deixou de ser o centro universal, o ser humano tomou esse posto de pilar central. Entretanto, com o advento da pós-modernidade, houve a chamada descentração do indivíduo. Por causa de toda descontinuidade de identidades formadoras do “eu”, há uma quebra com esse paradigma de um ser humano detentor de auto-conhecimento capaz de colocá-lo em um pedestal de conforto.

À medida que o indivíduo começa a conviver mais com a sociedade, ele passa a compreendê-la melhor e adquire maiores habilidades que o capacitam a criticá-la e a discernir de uma melhor forma seus componentes. Nesse sentido, quando o ser humano passa a conviver dentro de um ambiente completamente urbano, como uma metrópole, e é forçado a se relacionar com os mais diversos tipos de pessoas, seja por quais situações forem, ele acaba sendo absorvido por esse todo, e se torna parte dele. É aqui que o sujeito iluminista é totalmente desmentido, pois se admite que alguns poderes tentam controlar a formação da identidade. Sendo que, essa identidade é composta durante toda a vida, ou seja, o processo é sempre contínuo, não há formas de haver um conceituamento concreto.

Hall afirma a todo momento que os indivíduos tendem a buscar formas de se caracterizarem diante dos demais, por isso a forma mais simplória e mais utilizada para fazer essa rotulação é a identidade nacional, que passa a ser também a identidade cultural mais marcante do ser. De acordo com ele, sem um sentimento de identificação nacional, o homem passa a ter crises de identidade. Um grande problema para essa forma de classificação, é que muitas vezes o nacionalismo é forjado com o tempo, pois dentro de uma própria nação pode haver sentimentos de disparidades. Além disso, dentro de um mesmo Estado-Nação há várias sub-identidades, que não são determinadas geograficamente por necessidade. Nessa perspectiva, o autor se volta mais uma vez à globalização, pois esta está ligada a uma mixagem muito gritante às identidades nacionais, — seja por Imperialismo, por transnacionalização, por imigração, ou por diversos outros motivos.

Por isso, Stuart Hall afirma que a globalização é responsável por essa inconsistência, esse colapso de identidades, principalmente por haver uma alteração simbólica na distância e no tempo, graças ao advento dos meios modernos de telecomunicação, como a internet e a radiodifusão. Dessa forma, formam-se identidades híbridas, sem um núcleo comandante ou que seja passível de se classificar por determinada ênfase. Outro aspecto que a globalização trás de novo é a preocupação com o presente, pois as modificações de espaço e tempo causam efeito profundo na sociedade. Hall também deixa claro que quanto mais as sociedades se expõem, mais a globalização se infiltra; e pela falta de uma cultura forte, dominante, ocorre uma homogeneização.

Dentro dessa rede de correlações, é perceptível também que essas homogeneizações interferem na cultura global, mas também na cultura local, graças à exportação de cultura. Hall exemplifica com um das polarizações mais notáveis atualmente, o Oriente versus o Ocidente, que se modificou a partir do momento que houve correntes imigratórias. Por um outro lado, outros processos foram instaurados, como a xenofobia, causada por causa da diversidade cultural dentro de um mesmo território, que constrói estereótipos preconceituosos.

Além disso, é preciso compreender que dentro de uma mesma cultura há indivíduos diferentes, e com a imigração, essas pessoas transferem-se para outras culturas e acabam por formar novas culturas. Hall pontua dois pontos essenciais dentro dessa discussão. O primeiro é a respeito das trocas culturais que sempre acontecem de formas distintas para cada um dos dois pólos. E a segunda é sobre o fato de que com um pólo hegemônico, as outras culturas tornam-se periféricas; e mesmo que haja um poder centralizador, existem trocas entre os pontos periféricos.

Stuart Hall finaliza discutindo questões como o sincretismo, que nada mais é do que a fusão de várias culturas que contribuem para formar uma única cultura. Para o autor, essa busca por uma cultura pura é pré-requisito para instaurar uma tirania. Dessa forma, ele também permeia uma explanação sobre o fundamentalismo, ou extremismo, que se estabelece principalmente em países pobres, por que esses são mais vulneráveis política e economicamente. O autor afirma que nesse caso os desvios causados pela globalização são alimentados pelo ocidente, mas ao mesmo tempo, e contraditoriamente, o ocidente se descentraliza. Hall conclui que o nacionalismo e a rotulação de etnia seriam formas arcaicas de apego, uma forma de o indivíduo se caracterizar como parte da sociedade de uma forma que cause mais conforto.

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