domingo, 2 de novembro de 2008

Resenha: Os Estrangeiros do Trem N (Sérgio Vilas Boas)

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Plínio, Angél, seu vizinho, o amigo do amigo: os estrangeiros do trem N

Make money: o sonho de milhares de brasileiros, mexicanos, colombianos, etíopes, e tantos outros estrangeiros, que viajam para os Estados Unidos da América. No início, o objetivo é geralmente o mesmo: trabalhar, trabalhar, trabalhar, e trabalhar; ganhar o máximo de dinheiro possível, fazer o “pé-de-meia” e voltar para o país de origem para ter a vida que qualquer pessoa sempre sonhou.

Mas, nesse meio tempo eles descobrem que há muito mais coisas que compreendem o sonho americano do que o make money. Acabam conhecendo as várias faces de um país tomado por imigrantes, extremamente capitalista, no qual eles vivem muito mais episódios do que imaginavam: amores, amizades, patrões, drogas, imigração, polícia, burocracia... Sutilmente suas identidades se fundem a esse novo mundo, e os sujeitos se tornam mais complexos e também mais suscetíveis a crises pessoais.

Sérgio Vilas Boas, em seu livro Os Estrangeiros do Trem N, faz um grandioso trabalho de jornalismo literário para narrar a história desses imigrantes, mais particularmente dos que tomam a Cidade de Nova York como novo lar. Em 388 páginas, o repórter Paulo Monfort (identidade forjada do autor) conta a sua própria trajetória ao chegar na “Cidade da Liberdade” com sua mulher, e mescla essa narrativa às trajetórias dos estrangeiros que encontra pelos trens do metrô, como as de Plínio João e Angel Benadski — dois brasileiros que caíram de pára-quedas nesse universo.

De uma forma que cativa o leitor, o jornalista descreve minuciosamente todos os ambientes, pessoas, e acontecimentos com que se depara. Ao longo do livro, é possível encontrar todos os tipos de situações, que vão desde os processos burocráticos para um imigrante ilegal tirar sua carteira de motorista, até as falhas na segurança interna de um presídio, que culmina na fuga de um detento. A todo o tempo o autor não se detém ao mostrar um lado sórdido e nocivo que propositalmente, ou não, não se vê nos filmes hollywoodianos.

É interessante notar que em muitos trechos, Sergio Vilas Boas, transcreve totalmente as gravações que fez em fita k-7, com todas as falhas e regionalismos que foram ditos pelos entrevistados. Inclusive, por esses escritos, é possível compreender a relação que o repórter mantinha com suas fontes. Muitas vezes Paulo é visto como um ser detentor de visão crítica, ao qual muitos imigrantes chegaram a pedir conselhos e a desabafar. Dessa forma, ele cultiva suas relações interpessoais, chegando a passar anos convivendo com as mesmas pessoas a fim de conseguir obter informações.

Os Estrangeiros do Trem N é um livro desmistificador, que quebra com os paradigmas aos quais estamos habituados. Explana muito bem as causas e conseqüências de quem se arrisca pelo sonho americano. Além disso, não teoriza apenas, mas mostra na prática, e com exemplos reais, todos os fatos ocorridos.

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