domingo, 2 de novembro de 2008

Além dos outdoors: Centro de Goiânia visto por outro ângulo

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Entrevista com co-diretor do filme goiano que retrata os problemas da poluição visual dos grandes centros urbanos

Ganhador de melhor roteiro do FestCine e de melhor filme goiano no FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental), Além dos outdoors é uma produção feita por universitários goianos e retrata o lado ambiental do Centro de Goiânia, mostrando a gigantesca poluição visual gerada por letreiros e outras obras de publicidade que escondem os traços históricos da arquitetura original dos prédios.

Caio Henrique, co-diretor do filme, conta os detalhes dessa obra, desde as idéias iniciais até ao projeto finalizado. O estudante de jornalismo ainda fala das curiosidades sobre as filmagens, as dificuldades de produção e as conquistas do trabalho.


PTJ I: Como foi escolher o tema do filme? Vocês passavam pelo centro e observavam essa poluição visual, ou partiram da idéia de outra pessoa?
Caio: Foi algo interessante. No dia-a-dia andamos muito pelo centro. Certo dia eu estava por lá, pensando sobre uma produção de vídeo ambiental para a faculdade. De repente eu tive um estalo! Olhei em volta e tudo que eu podia ver eram apenas outdoors! Era o que precisávamos. A partir de então, partimos para as pesquisas.


PTJ I: O filme conseguiu transmitir sua proposta original?
Caio: O filme mudou de direção várias vezes desde que a idéia foi concebida. Mas no final acabamos por não fugir tanto do foco. Em certo momento quisemos retratar o assunto da arquitetura original de Goiânia, mas depois mudamos de idéia e passamos a trabalhar da perspectiva de que a publicidade escondia essa arquitetura.

PTJ I: O documentário a todo tempo expõe o problema, mas não dá soluções. Particularmente, há uma solução para a poluição visual dos centros urbanos? Seria possível conciliar o histórico com o comercial?
Caio: A solução seria muito complicada, e até por isso nunca pensamos em dar uma. Mas agora, falando a vocês, penso que se houvesse um projeto para limitar a publicidade, seria bom, por que aquilo cansa. É muita informação ao mesmo tempo. De alguma forma o comerciante também perde com isso.


PTJ I: Vocês citam o Projeto de Revitalização do Centro de Goiânia no documentário. Vocês tinham conhecimento sobre ele ao pensar o filme?
Caio: Não. Tomamos conhecimento sobre esse projeto durante a produção, e ele foi muito importante para o gerenciamento do filme. É um projeto polêmico, atualmente está até parado, então não quisemos citá-lo diretamente.


PTJ I: Vocês receberam uma verba para a realização do filme a partir de um concurso de roteiro que venceram no FestCine. Como foi ganhar esse patrocínio?
Caio: Fizemos um roteiro para uma disciplina da faculdade – Vídeo Ambiental I. Então descobrimos o edital do Festcine, da secretaria de Cultura, cujas inscrições já estavam acabando. Então conseguimos o prêmio de R$30 mil. Mas independente disso, produziríamos o filme de um jeito ou de outro.


PTJ I: Como foi participar do FICA?
Caio: A matéria que estávamos cursando na faculdade era totalmente voltada para o FICA. Então já tínhamos uma idéia de participar do festival. Aliás, é o que acontece com a maioria das produções goianas de hoje. São todas direcionadas para o FICA.


PTJ I: Vocês acreditavam que poderiam ganhar esse festival?
Caio: Não esperávamos. Os competidores tinham um ótimo nível, e mesmo em Goiás a concorrência é grande.

PTJ I: Durante o documentário não há a opinião dos publicitários. Há uma razão especial para excluí-los?
Caio: O documentário se propunha a isso. Era um argumento e queríamos fazê-lo. O filme possui um discurso direto e objetivo. Queríamos mostrar somente um lado da história a partir dessa linguagem dinâmica.


PTJ I: Houve críticas da publicidade sobre essa falta de participação?
Caio: Não, não houve. Muito pelo contrário, aconteceu algo engraçado. Uma amiga minha que é publicitária, disse que estava fazendo um desses letreiros horríveis para uma determinada loja, o que prova que alguns profissionais também não acham bonito o resultado deixado.


PTJ I: Nota-se que o filme possui tomadas bem diferentes. Vocês tiveram a influência de cineastas modernos nesse aspecto?
Caio: Para ser sincero, na época da produção eu não tinha conhecimento sobre o assunto. Talvez a única produção que tenha tido um pouco de influência seja um documentário chamado Surplus, que participou de uma edição anterior do FICA, e que tinha uma linguagem rápida e um bom uso de músicas.


PTJ I: Durante o filme há várias cenas onde a câmera “corre” e pára. Que idéia isso quer transmitir?
Caio: A idéia é simular o olhar das pessoas ao andar pelo Centro de Goiânia. É trazer a idéia da correria. A concepção do filme é baseada nisso.


PTJ I: Existe uma música dos Engenheiros do Havaí com o mesmo nome do documentário – Além dos outdoors. Há alguma relação dessa música com o filme?
Caio: Eu ouvia muito a música, gostava muito. Foi por isso. Mas a única relação do nosso filme com a música é o título, quanto à letra não tem nada a ver.


PTJ I: Em determinado trecho do filme há uma série de fotografias de outras cidades como Rio de Janeiro e Curitiba? Como conseguiram essas imagens?
Caio: Para ser bem sincero, pesquisamos na internet. Mas devo dizer que não tem problema, pois nós não fizemos o filme com intenção comercial.


PTJ I: Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas por vocês em todo o processo? Quanto tempo gastaram na produção?
Caio: Com certeza o maior problema foi a falta de experiência. Havíamos feito apenas um outro vídeo antes. O tempo que fizemos a produção foi relativamente rápido, apenas dois meses.


PTJ I: Além dos outdoors já foi inscrito em outros festivais?
Caio: Sim, ele está circulando por aí.. O filme já foi para muitos festivais legais. Esteve recentemente no Ceará.


PTJ I: O que pretendem fazer ou já fizeram com o dinheiro dos prêmios? Pretendem investir em novas produções?
Caio: Uma parte do dinheiro foi para uso pessoal (risos). Outra parte está destinada a uma nova produção.

PTJ I: Vocês já têm idéias para outros filmes?
Caio: Temos sim. Até já tentamos, mas por enquanto estamos parados. Talvez voltaremos à proposta no início do próximo ano.

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Lorena Gonçalves - 2008 / 2009 - Todos os direitos reservados.
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