domingo, 2 de novembro de 2008

Finalmente não é mais um besteirol americano

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Assistir à cerimônia do Oscar no Brasil é uma experiência tão comovente quanto cômica. É claro que se você não é um brasileiro classe média e pode pagar por belos canais fechados, o comentário seria outro. Entretanto vou reservar-me ao espaço que me compete: ser telespectadora da “inefável” Rede Globo.

Enquanto o evento se desenrolava com desfiles pelo tapete vermelho, closes propositais nos queridinhos da noite e suspiros aliviados dos organizadores que comemoravam o fim da greve dos roteiristas, lá estavam a apresentadora Maria Beltrão, José Wilker e seus comentários, e a atuação da tradutora simultânea Anna Vianna (o terror de quem gostaria de ter compreendido algo, mesmo que fosse só em inglês). Em meio a várias interrupções para os “reclames do plim-plim”, cobertura do BBB e comentários quilométricos por parte dos apresentadores, às vezes era possível presenciar um “and the Oscar goes to....” ao vivo.

Dentre essas idas e vindas, uma face nada comum foi colocada em destaque pelas câmeras. O cabelo recortado e a maquiagem forte chamavam a atenção, o olhar era firme, e seu vestido não era nada comportado. De repente, essa personagem caricatural ganha vida e sai de sua moldura na platéia para desfilar pela escadaria do Kodak Theatre. Ela não é mais uma mera mortal, tornou-se a mais nova ganhadora do prêmio-mor de Roteiro Original. “Diablo Cody”, era o que dizia a legenda.

Em meio a lágrimas, a ex-stripper (detalhe só revelado após a premiação) recebeu o reconhecimento mundial de seu trabalho. Mas espere, qual é mesmo seu grande feito? Nada mais, nada menos do que Juno.

Obviamente, se você é ainda o brasileiro classe média já citado acima, e não vai ao cinema tão freqüentemente, não deveria ter escutado muito sobre esse filme. Além de ter sido lançado apenas dois dias antes no Brasil, Juno não teve um gordo orçamento como os supra-sumos da publicidade “No Country for Old Man” e “There Will Be Blood”.

A princípio a história poderia parecer o clichê de mais um “caso de adolescente grávida que tem que enfrentar Deus e o mundo para ser feliz”. Entretanto, não é nada disso. Não foi à toa que os acadêmicos indicaram a produção para quatro Oscars, incluindo o de melhor atriz e melhor filme do ano.

Ellen Page, que concorreu contra veteranas como Cate Blanchet e Julie Christie, interpretou maravilhosamente a história de Juno, uma garota tão diferente quanto o próprio nome. Ao engravidar de um amigo da escola, a menina passa por clínicas de aborto, mas desiste; e então ao lado de sua amiga Leah, sai em busca de pais adotivos para a criança.

Com o roteiro leve e contagiante, a obra leva o espectador a repensar a vida com o que seria apenas um drama adolescente. É interessante o fato de durante o filme, algumas perguntas como “por que ela passou o batom?”, “por que ela o abraça?”, ou “por que ela escreve um bilhete?”, que pareceriam banalmente simples em outra situação, em Juno são de extrema importância; como se Diablo Cody tivesse arquitetado todas elas ao escrever sua criação.

Além de não ser um filme moralizante, não há a expectativa de mostrar o que é certo ou errado. As personagens são tão redondas, que deixam totalmente livre a interpretação do conteúdo, de acordo com os conceitos de quem é apresentado à história. Assisti-lo pode ser tão divertido como reflexivo.

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Lorena Gonçalves - 2008 / 2009 - Todos os direitos reservados.
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