domingo, 2 de novembro de 2008

A Lenda do Beijo Infeccioso

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Boatos e especulações ganham valor de fatos e ocupam o imaginário dos goianienses

por Lorena Gonçalves e Paula Falcão
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Há um mês uma história fantástica tem se espalhado por Goiânia. O boato conta sobre uma garota que teria se infectado com uma bactéria de cadáveres por meio de um beijo dado em um estranho. Essa é apenas a temática da narrativa, que dadas as circunstâncias informais, ganhou várias versões, que caracterizam um tipo de lenda urbana.

As lendas urbanas são histórias de caráter duvidoso e sensacionalista, e que de modo geral, são transmitidas oralmente, e passam a fazer parte do imaginário popular. Na maioria dos casos, as personagens são pessoas não-relacionadas diretamente ao indivíduo que conta a narrativa, o que cria um ciclo vicioso, repleto de especulações, oscilações e contraposições.

O relato mais recente, que tem instigado a curiosidade e o medo nas pessoas é sintetizado no depoimento de Alice Queirós, estudante de biomedicina: “Uma menina foi pra uma festa de uma famosa boate de Goiânia, e influenciada por uma amiga, beijou um rapaz muito bonito. Entretanto, após algumas horas notou feridas no rosto, na região próxima à boca. Preocupada, procurou ajuda médica e descobriu que, por causa do beijo, estava infectada com bactérias que só poderiam ser encontradas em cadáveres. Ao ser acionada, a polícia investigou o caso e descobriu que o rapaz responsável escondia dois corpos em seu apartamento, e praticava sexo com eles. A moça foi internada, e se encontra em estado grave.”

Os desdobramentos desse primeiro depoimento são inúmeros. “Fiquei sabendo que ela está internada em estado grave, na UTI”, afirma Geovana Gonçalves, estudante de Biomedicina. “Ela está em coma, em carne viva”, disse Weilly Lino, universitário. Já Bruna Lemes, estudante de ensino médio afirma que a infecção foi fatal. “Me informaram que ela morreu”.

As versões sobre o rapaz responsável pelo ocorrido também são controversas. Algumas fontes dizem que ele seria um estudante de medicina, que trabalhava no Instituto Médico Legal, IML, e que por isso se contaminou.

Em outra narração o jovem se chamaria Evandro e esconderia cadáveres roubados de cemitérios em seu apartamento. “Ele é necrófilo, ou seja, mantém relações sexuais com cadáveres e teria sido preso, após os policiais terem encontrado os corpos de duas mulheres em sua casa. Um estava no guarda-roupa, e o outro que ele mais gostava, estava na geladeira”, afirma Caroline Ribeiro, universitária.

No entanto, os boletins policiais das últimas semanas revelam que não houve caso de algum rapaz preso por violação de cadáver, ou assassinato, cuja história se encaixe com os parâmetros divulgados no boca-a-boca. "Conversei com colegas, inclusive da delegacia de homicídios e constatei que não há registros sobre o caso", afimou Rander Gomes de Deus, delegado federal aposentado.

Os hospitais listados pelas pessoas nos relatos revelaram que não houve qualquer paciente que se enquadrasse com o episódio descrito. Nádia Chuc, uma das médicas responsáveis pela UTI do Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia (HDT), afirmou que a garota não estava internada na instituição e considerou que a história “é até engraçada, de tão absurda! É um caso a ser estudado pela psiquiatria!”. Nádia afirmou ainda que é comum fofocas assim serem espalhadas pelos corredores de hospitais.

Apesar de o fato ser conhecido amplamente na cidade, a história não foi noticiada, ou confirmada por qualquer veículo de comunicação. A TV Anhanguera e o jornal o Diário da Manhã, citados em alguns dos relatos, negaram terem noticiado qualquer acontecimento similar. Muitas declarações, no entanto, dizem que as famílias envolvidas são influentes e que a contenção da notícia ocorre para evitar constrangimentos para a vítima. “Ouvi dizer que a menina infectada é filha de um delegado, por isso estão escondendo da mídia”, afirmou Alice Queirós.

Pessoas que conheceram a história relatam que a possível fonte inicial seria uma professora de Anatomia da Universidade Federal de Goiás, que teria tido contato direto com a jovem infectada, em um hospital. Todavia, a professora responsável pela disciplina na instituição informou que não tem conhecimento do assunto.

Apesar das especulações, a narrativa carrega verossimilhança. Existem doenças transmissíveis por meio do beijo, desde a simples “Doença do Beijo”, causada pelo vírus Epstein-Barr e que simula uma gripe; até doenças sexualmente transmissíveis, como gonorréia e sífilis. A necrofilia também é uma realidade. Há vários casos de pessoas que se envolvem sexualmente com cadáveres, como o ocorrido em 2005, em Coxim – Mato Grosso do Sul, no qual um homem foi preso por violar um túmulo de uma mulher recém-falecida.

Além disso, existe uma bactéria com características compatíveis com as relatadas, mas que não se relaciona com cadáveres: a vibrio vulnificus. É um microorganismo que provoca infecções em feridas. Pessoas com problemas hepáticos ou imunodeficiência estão sujeitas às infecções mais graves. Nesses casos a infecção pode levar rapidamente a morte. A bactéria é natural de ambientes e espécies marinhos. Não há dados disponíveis sobre a freqüência da patologia no Brasil.

Lendas Urbanas

As lendas urbanas têm sido abordadas nos novos meios de comunicação, como em correntes da internet, jornalismo online, e pela televisão, principalmente em programas vespertinos diários e dominicais. Nos programas de TV, os quadros consistem na dramatização da narrativa, e tratam o caso como se fosse verídico. São episódios que descrevem histórias bastante conhecidas, como: O Trem Fantasma, O Roubo do Rim, O Homem do Saco e a Bruxa do Espelho.

Apesar de a repercussão atual ser massificada e automática, lendas antigas permanecem em voga, como “A Loira do Banheiro”. A estudante de agronomia, Laís Santiago afirma conhecer a velha história que costumava ocupar o tempo do recreio na escola. A aparição da figura sombria exigia a realização de um ritual “Eu e minhas amigas costumávamos ir ao banheiro e dar várias descargas, abrir e fechar a torneira e bater a porta. Quando teoricamente a loira iria aparecer saíamos correndo e gritando”, diz a estudante.

25 Comentários

Nikky disse...

kkkkkk
É cada coisa!!
Lembro que quando era mais nova, saiu uma conversa e chegou aos ouvidos da minha mãe que eu ia no cemitério comer carne de cadáver!

Na época fiquei desesperada, pois nunca tinha entrado em cemitério (nunca tinha morrido ninguém conhecido), mas hoje dou risada da criatividade do povo!

Julismar disse...

Muito interessante! ;D

Priscila disse...

kkkkkk, o povo pira msm!!
falta do que fazer!

Unknown disse...

CARAMBA ESSA LENDA JA CHEGOU AQUI EM RIO PRETO SP, DIZEM QUE ELA ESTÁ INTERNADA NO HOSPITAL DE BASE

Anônimo disse...

Nossa, essa historia está sendo muito contada recentemente em Jundiai e em São Paulo... mas com referencias a uma boate local (Zoff - Indaiatuba). Essas lendas urbanas se espalham fácil...

Anônimo disse...

já chegou a curitiba essa lenda também, contextualizada aqui.

Anônimo disse...

nossa eu ouvi esta historia e fiquei horrorizada,diserão que se passou aqui em curitiba na batel.
confeço que acredito

Anônimo disse...

hahah
em Londrina - PR tb já chegou a história.. "Da Silva" seria a boate..
cada umaaaaa

Anthony disse...

Excelente a reportagem além de muito esclarecedora. Ouvi esta lenda em Pindamonahangaba coma citação da boate eo como tendo ocorrido em Taubaté.
Aquiem Curitiba também há uma versão dela.
As bactéria que causam putrefação são anaeróbias e não conseguem suportar ambiente com oxigênio portanto o sangue do nosso corpo se torna um antisséptico natural, o que torna improvável que alguém se contaminasse com esse tipo de bactéria na boca.
Além domais a boca não é um órgão vital a ponto de a pessoa morrer por isso a não ser que a bactéria conseguisse causar septicemia, ou seja ainfecção no sangue.

dani disse...

Meeeeee. aqui em Estância Velha( rio grande do sul) já chegou está história e como se ela tivesse passado aqui no bar alternativo..
.kkkk. e cada coisa....muita criatividade
......0

dani disse...

Meeeeee. aqui em Estância Velha( rio grande do sul) já chegou está história e como se ela tivesse passado aqui no bar alternativo..
.kkkk. e cada coisa....muita criatividade
......0

Unknown disse...

Nossa ,nao sei se acredito ou nao,uma professora e que comentou o assunto recentimentea aki em aparecida de goiania go.

Andres Amaral disse...

A história que fiquei conhecendo difere um pouco da lenda em questão. Nesta um rapaz havia procurado auxílio médico, devido a um quadro que havia tido (não me recordo se foi uma ferida ou outra patologia) e que não curava com a medicação existente. Ao investigar o caso, soube-se que o rapaz era amante de uma moça, cujo marido trabalhava em uma funerária, e que este mantinha relação com cadáveres. O mesmo era imune a patologia e a mulher também, porém transmitiu ao amante que só assim conseguiram descobrir a origem do problema e tratar a doença em questão. Pode ser uma variável da lenda, porém creio que havia mais elementos para se acreditar na segunda que na primeira. Estranho, mas poderia ser real...

Eurico disse...

E eu acredito em papai noel, coelhinho da páscoa, adoro acreditar nisso, pois eles existem.

Unknown disse...

Já estar em Campinas...o povo brasileiro tem muita criatividade.... Vamos fazer um filme de terror...que ganhamos mais....

Unknown disse...

Como se já não bastasse tanta coisa ruim no mundo e o povo ainda sai inventando esses horrores! !! Affffff

Unknown disse...

Como se já não bastasse tanta coisa ruim no mundo e o povo ainda sai inventando esses horrores! !! Affffff

Gugow. ┌П┐(◣◢)┌П┐. disse...

Minha esposa me contou agora essa estória. Disse que uma amiga de uma amiga de Florianópolis pegou a tal da herpes. Por isso parei aqui.kkkkkk
Li o texto pra minha esposa. Mesmo assim ela continua acreditando.kkkkk cada coisa. Pelamor.

Anônimo disse...

Gente uma amiga me contou ontem essa história, sou de Piracicaba, mas segundo ela aconteceu em Campinas. Vim aqui procurar e a história é igualzinho está, então acho q deva ser está lenda

Unknown disse...

Desconheço essa história, mas trabalho em hospital e garanto q muita coisa q acontece la dentro é negada e não consta nos registros de ocorrência... muita coisa é abafada...

Unknown disse...

Ocorreu em SC, Balneário Camboriú, apartamento da Av.Atlantica em 2009, morava a 3 quadras do local. Foi abafado, mas os moradores da cidade ficaram sabendo! Se espalhou pelo RS, Paraná e após para outros estados do Brasil. Não é lenda urbana não!

Unknown disse...

Ocorreu em SC, Balneário Camboriú, apartamento da Av.Atlantica em 2009, morava a 3 quadras do local. Foi abafado, mas os moradores da cidade ficaram sabendo! Se espalhou pelo RS, Paraná e após para outros estados do Brasil. Não é lenda urbana não! Necrófilo é uma doença psiquiátrica que não tem cura, a pessoa precisa ser afastada da sociedade e medicada. Sou profissional da saúde.

Unknown disse...

Chegou em Estância Velha porque moradores da tua cidade tem familiares que moram onde aconteceu o caso, moram a 3 quadras do apartamento em SC.

Unknown disse...

Ocorreu em 2008 e começou vir a público em 2009.

Anônimo disse...

Eu morava na cidade em Balneário Camboriú 2009, e foi verdade, imagina que a família de um rapaz que tem um apartamento milionário vai deixar este assunto sair na mídia!? Pergunta para um psicólogo ou psiquiatra o número de casos de necrofilia que já trataram?! Sabe aquele ditado que diz onde a fumaça a fogo!

 

Lorena Gonçalves - 2008 / 2009 - Todos os direitos reservados.
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